domingo, 24 de fevereiro de 2008
No armário...
domingo, 3 de fevereiro de 2008
"Ele tinha tudo, menos limite."
Depois de tanta propaganda – da TV e dos amigos – fui ao cinema ver "Meu nome não é Johnny". Assumo que, concordando com a grande maioria, gostei do filme, o que não faz com que eu esqueça os pensamentos de reprovação em alguns aspectos...
O cinema brasileiro está caminhando com elegância: bons roteiros, artistas, diretores, fotografia. Chego a imaginar, num futuro que eu espero seja breve, o dia em que os nossos filmes farão tão sucesso lá quanto os deles fazem aqui. Nosso potencial é dos melhores, só precisamos – e, cá entre nós, nós temos! – das pessoas certas para transformá-lo em cinético, sonoro e visual. (Quem diria, eu usando meu pouco conhecimento sobre física.) Ah, claro, precisamos, também, de mais investimentos, ou melhor, de gerenciá-los corretamente...
Contudo, ainda me questiono qual é a imagem que passaríamos ao mundo com nossos filmes. A temática sempre gira em torno de sexo – com variações de mulheres nuas a prostituição escancarada -, violência – da prisão ao seqüestro do magnata – e drogas – do traficante que mata quem não paga ao viciado que faz de tudo para conseguir mais. Por que apelar para uma dessas vertentes – isso quando não nos deparamos com aqueles que juntam as três no mesmo – se a história já é suficiente para conquistar o público? Por que não acreditar que não somos só "o país do carnaval, do futebol e da capirinha"? Afinal, só tem isso no nosso território? Eu, você, o vizinho: traficantes, nus, jogadores de futebol? Ou eu, você, o vizinho: cidadãos que não suportam a banalização da "cultura" brasileira por acharmos que ela não é tão simples como mostram? Prefiro acreditar que tanto você, quanto o vizinho, acham o segundo aposto mais fiel à realidade.
Bom, esse discurso todo tem uma razão. Como eu disse no começo, assisti ao filme baseado no livro homônimo do jornalista Guilherme Fiúza. E tudo começou, na verdade, porque senti três emoções distintas. Compaixão. Raiva. Felicidade.
Para quem não tem idéia, ainda, do que se trata, "Meu nome não é Johnny" conta a história de João Guilherme Estrella – interpretado, brilhantemente, por Selton Mello - , garoto de classe média do Rio de Janeiro que conheceu o mundo das drogas com um baseado, ou melhor, com a maconha. Em pouco tempo foi apresentado a ela: a tal da cocaína. Festa aqui, festa acolá, o jovem precisou de uma quantidade maior a fim de suprir a demanda pelas drogas; era a porta para iniciar o tráfico. Nesse tempo, conhece Sofia (Cléo Pires) e ambos, apaixonados, passam a viver juntos do dinheiro das drogas. A quantidade de substância química nas mãos de João Guilherme não parou de crescer; a intensidade de suas festas, também. Começa a vender com um esquema de fachada, uma loja de peixes - que, me permitem a piada, bem “piradinhos” – com a droga em seu interior. Não demora muito, ele leva seu pó e a namorada para a Europa. O esquema era forte e ele poderia ter ficado milionário, mas preferiu gastar tudo regando a vida com viagens, festas e mais drogas. Quando estava planejando a segunda ida à Europa, para onde levaria aproximadamente 6kg de cocaína, a polícia entrou no apartamento em que a droga estava e pegou João Guilherme e dois amigos. Os três foram presos, em 1995, e esperaram o julgamento assim. A juíza (Cássia Kiss), embora fosse a mais linha dura da época, acatou o pedido do advogado de João, considerando o réu portador de problemas mentais e o encaminhando para o hospital psiquiátrico carcerário onde terminou de cumprir sua pena. Por dois anos, João Guilherme Estrella, o Johnny, um dos maiores traficantes de drogas do Rio de Janeiro sem nunca ter pisado numa favela, ficou preso.
O filme, então, acaba com uma breve “prestação de contas” à sociedade sobre a atual situação de João: ele, que é produtor de executivo de shows e eventos e empresário, lançará seu primeiro disco solo como cantor e compositor.
Ah, voltando às minhas emoções distintas após o filme...
A recuperação de Estrella é um daqueles episódios em que a gente volta a acreditar no potencial do ser humano. Ele conheceu o fundo do poço e soube dar a volta por cima... É uma injeção de esperança: qualquer um pode, sim, abandonar o tráfico.
Mas, e como foi passado nas telas? Em determinados momentos, mesmo sabendo que ele era um traficante, o sentimento de compaixão foi intenso, “afinal, ele é homem, também erra, poxa”. Isso sem contar a revolta – independente de quando se sabe que é o retrato da realidade – em ver como aqueles que devem nos proteger, a polícia, pode ser corruptível. Serve também como uma injeção de desânimo: precisamos mudar bastante, mas onde começamos?
No mais, o filme “Meu nome é Johnny” é muito bom. Um daqueles que a gente deve indicar aos amigos...
* Ficha técnica:
Inspirado no livro “Meu nome não é Johnny”, de Guilherme Fiúza
Uma Produção: Atitude Produções
Produção: Mariza Leão
Direção: Mauro Lima
Roteiro: Mauro Lima e Mariza Leão Produtor Associado: Guel Arraes
Produtora Executiva: Mariza Leão
Produtora Delegada: Camila Medina
Figurinos: Reka Koves
Direção de Arte: Claudio Amaral Peixoto
Trilha sonora: Fabio Mondego, Fael Mondego, Marco Tommaso
Montagem: Marcelo Moraes
Fotografia: Uli Burtin
Co-produção: Sony Pictures Home Entertainment, Globo Filmes, Teleimage, Apema
Site Oficial: http://www.blogger.com/www.meunomenaoejohnnyfilme.com.br
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“O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos (...)” Marguerite Yourcenar
Juízo.
Beijos!